novembro 28, 2011

I - JUCA-PIRAMA

Para a Editora Martin Claret, uma ilustração de capa do livro de bolso que reúne o célebre épico brasileiro e outros poemas do mesmo autor. I - JUCA-PIRAMA é um canto a um guerreiro Tupi, aprisionado pelo povo Timbira, que sacrifica a sua própria honra ao pedir clemência na hora da morte, passando-se por covarde para poder oferecer ajuda ao velho pai, cego e doente. Este, no entanto, envergonha-se da sujeição do filho. Injustiçado, o bravo guerreiro lidera enfim um ataque dos Tupi aos Timbira.



De espírito romântico, com nacionalismo e verve indianista, Gonçalves Dias conferiu, ao lado de José de Alencar, brasilidade à literatura brasileira. Orgulhava-se por ter o sangue das três matrizes. Filho de pai português e mãe cafuza, foi poeta, dramaturgo, filólogo, professor e homem público. Trabalhou como caixeiro. Estudou latim, francês e filosofia. Completou seus estudos em Portugal. Fez Direito na Universidade de Coimbra. Participou do movimento medievista. Foi também jornalista, cronista, crítico literário e autor de folhetins teatrais. Também foi pesquisador e membro da Comissão Científica de Exploração, pela qual viajou por quase todo o norte do Brasil. Sua obra estimulou o sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras.

outubro 27, 2011

AVENTURAS DO TUXAUA DAS ONÇAS


Com alegria comemoro o breve lançamento destas narrativas tradicionais do povo Sateré–Mawé (Paulinas Editora), selecionadas e recontadas pelo escritor indígena Tiago Hakiy e especialmente dedicadas aos seus filhos. Nosso primeiro encontro foi em 2009, em Cuiabá, quando participamos da primeira edição da FLIMT - Feira do Livro Indígena de Mato Grosso. Naquela ocasião, com carisma e fluidez, Tiago logo seduziu a platéia ao compartilhar seus poemas vestidos de verde, sangue, seiva, água, palavras de exaltação, beleza, orgulho, deslumbramento e identidade.


AWYATÓ-PÓT, o grande líder das onças, guerreiro reconhecido quando criança pelo painy (pajé) do povo Mawé, é o herói-civilizador protagonista das histórias reunidas pelo autor, ele próprio também um legítimo amazonense de Barreirinha e filho do povo Sateré-Mawé. Além de poeta e contador de histórias tradicionais, Tiago Hakiy é formado em Biblioteconomia pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas), e atualmente trabalha como subsecretário de Cultura, Turismo e Meio Ambiente no munícipio de Barreirinha.

A obra, certamente não apenas para o deleite das crianças, conta a bela odisseia desse bravo índio Mawé, as circunstâncias do seu nascimento, a bravura e o espírito de liderança e alguns dos seus enfrentamentos – com a Surucucu e com o temível Juma – e mesmo diante de questões familiares íntimas. Episódios que revelam parte da percepção dos Sateré-Mawé, os filhos do guaraná, no alinhavo entre os planos físico e o metafísico, como também ocorre entre outras tradições autóctones. Ilustrado com técnica mista e sob inspiração gráfica da cerâmica tapajoara, ancestralidade longínqua provável dos Saterê-Mawé.

setembro 22, 2011

ADMIRÁVEL OVO NOVO


O pintinho Pit, personagem principal do escritor Paulo Venturelli neste livro pela Editora Positivo, faz a gente refletir sobre as crianças e os jovens urbanos. Muitos mal conhecem os trejeitos de uma galinha choca ou os cacoetes de um galo. Lá no sítio da minha infância, próximo de Cotia, passávamos temporadas longas e prazerosas. O maior prazer da minha avó, além da cozinha, era o galinheiro. Memória e inspiração afetiva.




As galinhas tinham ali um abrigo noturno, e de dia ciscavam livres, leves e soltas. Lembro de tentar adivinhar como seriam os pintinhos, tão parecidos no início, quando virassem adultos. As galinhas ficavam sempre por perto, e a sua liberdade vigiada me intrigava. Hoje me ocorre que a gente também choca, pia, sacode as penas, cozinha o galo, tem minhocas na cabeça e bota ovo em pé. Por isso misturei esses ingredientes todos ao criar as imagens deste ADMIRÁVEL OVO NOVO. Com uma pitada de humor, afeto, lembrança, risco e poesia. E pautadas por sentimentos e reflexões.


Nas ilustrações misturei recursos analógicos e digitais. Parte das texturas foram feitas com lápis grafite, tinta acrílica, fotografias de paredes descascadas, raspas de serragem, casca de ovos caipiras e outros elementos combinados na composição com um toque climático. Busquei um clima intimista, com recursos mínimos de narração e sugestão, para acompanhar a crise existencial pela qual passa o personagem principal, desde o sentimento de segurança e acolhimento do ovo, passando pelas atribulações da infância e adolescência, até finalmente virar um galo adulto.

julho 15, 2011

FALA COMIGO, PAI!


Tuna faz quinze anos e descobre que Rick, na verdade, é seu padrasto. Decide procurar por seu pai biológico na tentativa de compreender aquilo que o levou a abandonar a família anos atrás. Surfista descompromissado, Biel se deixou levar pelas ondas dos mares, surfando pelo gosto da aventura, até parar na Indonésia. Mal conheceu o filho que cresceu, tão parecido com ele, cabeça solta, o mar no sangue e a prancha nos pés. Pai e filho, um mar de solidão. Saudades de algo que jamais desfrutaram. Tuna viaja para encontrar Biel, sem imaginar o que brotará desse encontro.


Nunca tinha feito qualquer rabisco sobre surfe. Embora tive alguns amigos surfistas e temporadas deliciosas no litoral norte e sul de São Paulo. Quando a Editora Rovelle me convidou para criar as imagens e o projeto gráfico deste livro juvenil escrito pelo prolífico Júlio Emílio Braz, as memórias praianas vieram à tona. De mim esperavam uma abordagem inspirada na paisagem e grafismos étnicos, tradicionais, balineses, indonésios, australianos. Ou na estética ousada do universo do surfe.


Aceitei o desafio, porém, porque o eixo dramático da história me agradou. Notei que as tensões climáticas da trama ofereciam um pretexto diferente para ilustrar as passagens. Depois de tantos trabalhos gravados à fogo, senti um apelo para inverter o raciocínio. Percebi que poderia usar a água, seus humores e nuanças, para acompanhar o ritmo das marés e dos sentimentos oscilantes das personagens. No projeto gráfico, que ficou sob a responsabilidade do nosso estúdio, também buscamos favorecer esse partido. Na capa, para intensificar o efeito resplandecente do sol sobre o mar, utilizamos cold stamping no acabamento. Um produção editorial cuidadosa, que só foi possível graças ao entusiasmo e sinergia de todos.

julho 14, 2011

AKPALÔ GEOGRAFIA




Ilustração para a capa de Akpalô Geografia (Editora do Brasil), sob o mote do frevo pernambucano, que desenvolvi estimulado pelas últimas férias em Olinda. Já colaborei antes com as capas da disciplina de História. A Coleção Akpalô, da qual fazem parte, tem como objetivo estabelecer a distinção entre o saber histórico como campo de pesquisa e o saber histórico escolar, adaptado à vivência dos professores e alunos em sala de aula.

junho 06, 2011

POLÊMICA À PARTE: VIVER, APRENDER


Muito pano para manga deu a paranóia vazia armada em torno da excelente Coleção Viver, Aprender (Ação Educativa/Global Editora). Bizarro exemplo de cibridismo histérico. Da fricção entre a norma culta e o falar popular restou o abismo de incompreensão entre especialistas, curiosos e paraquedistas. No balaio de gato coube de tudo. Tolices sem fim, jornalismo rasteiro e conclusões apressadas. Há anos, eu e o designer parceiro Eduardo Okuno, temos produzido boa parte do material didático dessa coleção, desenvolvendo projetos gráficos. Ilustrei também vários desses volumes. Essas publicações de prestígio são uma referência no segmento. Muito nos espantou, portanto, o evidente despreparo crítico de certas vozes. E a maneira leviana com a qual parte da imprensa conduziu suas reportagens, pouco ou nada investigativas. A resposta organizada está abaixo disponível aos interessados. Consumiu o tempo que outros deveriam ter dedicado antes de tirar conclusões equivocadas.



maio 04, 2011

RAIO DE SOL, RAIO DE LUA

Bologna Children's Book FNLIJ Selection, 2012

Sol e Lua já foram crianças há muito tempo atrás, segundo dizem no Senegal. Ambos costumavam acompanhar seus pais no trabalho nos campos cultivados. A família do Sol ia para o Leste e cultivava o milhete. A família da Lua, ia para o Oeste e cultivava o sorgo. Ao entardecer, acabavam se encontrando no meio do caminho. Assim Celso Cisto começa a recontar esta narrativa etiológica, que será lançada em 2011 pela Editora Prumo, que tive a chance de ilustrar recentemente.


A música africana sempre me encantou. Tenho alguns álbuns do cantor, compositor e percussionista Youssou N'Dour. Que também é embaixador da boa vontade para as Nações Unidas, Unicef e da Organização Mundial do Trabalho. Esse artista admirável vive em Dakar e se mantém fiel às suas origens e identidade, a despeito da sua receptividade musical aos novos gêneros. Embalado pela singular voz de Youssou N'Dour e pelo ritmo da sua banda, a Super Étoile de Dakar, produzi as imagens deste livro.


Além da música, entre as formas de arte mais populares no Senegal estão as pinturas feitas sob o vidro e as pinturas de areia. As útimas foram minha fonte. Normalmente os artistas combinam vários tipos de areia, com diferentes cores e tonalidades, conforme as características dos solos, praias, dunas, leitos de rios, áreas vulcânicas etc. Impedido de adotar a mesma técnica e materiais, optei por misturar areia, pigmentos, recursos digitais e grafismos de etnias tradicionais. Existem, por sinal, diversos grupos étnicos no país. Embora o francês seja o idioma oficial, a língua mais falada é o Wolof (do povo de mesmo nome), que corresponde a quase metade da população. Além dos Fulani, Serer, Jola, Bedick, Mandingo e outras comunidades menores. Incluindo também europeus e libaneses.


Em 1982 o Senegal se uniu à Gâmbia para formar a confederação nominal de Senegâmbia. Mas a integração concebida pelos dois países nunca se observou na prática e a união foi dissolvida em 1989. O Senegal, entretanto, tem uma longa tradição histórica pela paz internacional. Na ilustração acima, na qual fiz menção às águas do Lago Rosa e ao mapa do continente africano, brinquei também com a silhueta de uma mulher. Agachada à esquerda, ela tem o contorno do Senegal. Seu cajado, por sua vez, representa a República da Gâmbia, geograficamente contida dentro do território senegalês.

abril 01, 2011

VIRANDO GENTE GRANDE

VIRANDO GENTE GRANDE, RITUAIS INDÍGENAS DE PASSAGEM (Editora Moderna) é um livro que reúne histórias e informações sobre seis povos nativos: os Xavante, os Nambikara, os Bororo, os Guarani-Kaiowá, os Tapirapé e os Sateré-Mawé. Benedito Prezia, o autor, é pesquisador, assessor do CIMI e mestre em Linguística Geral pela USP. Celebrações de casamento ou formatura, por exemplo, são bem conhecidas e praticadas pela sociedade em geral. Contudo, existem muitos outros ritos tradicionais de passagem entre os povos indígenas. Boa parte deles sofreu com a influência da religião cristã e com a imposição de um modelo estrangeiro invasor. Muitos têm resistido. Outros buscam resgatar seus valores originais e sentidos profundos de sua origem, identidade e ancestralidade, frente à padronização cultural que empobrece, esteriliza e limita.


Os Tapirapé são um povo Tupi-Guarani originário da floresta do Pará. O contato com as frentes de expansão a partir do séc. XX os fez estreitar relação com os Karajá. Perderam parte de seu território tradicional para a agropecuária na década de 1990. Mas conseguiram reconhecimento oficial de duas TIs (terras indígenas), uma delas coabitada pelos Karajá. Porém, na TI Urubu Branco ainda enfrentam pressões e invasões de fazendeiros e garimpeiros. Moram em aldeia de formato circular, com a "casa dos homens" no centro, onde se reúnem à noite. Caçadas e pescarias são feitas pelas "sociedades de pássaros", isto é, grupos masculinos organizados por faixa etária. Cada um tem seu espírito protetor animal, que reverenciam. Atualmente educam as crianças em tapirapé e em português.



São amazônidas os Sateré-Mawé. Vivem entre os estados do Pará e do Amazonas. E falam uma língua Tupi bastante diferente das demais, por ser muito antiga e devido ao isolamento. Embora aguerridos, foram escravizados pelos portugueses no séc. XVIII e também vitimados por massacres durante a Cabanagem no séc. XIX. Povo de floresta, todos os seus clãs adotam animais protetores, para os quais dedicam rituais e oferendas. Apesar do catolicismo, muitos ainda praticam a tradição. São os primeiros a domesticar o guaraná, que chamam de uaraná-cecé, do qual obtém o çapó, uma bebida estimulante de leve amargor usada como suco e em rituais de cura. Ainda hoje praticam o ritual da tucandeira, para iniciar os meninos na vida adulta. A imagem acima faz um recorte da cerimônia.

janeiro 11, 2011

NÓS SOMOS SÓ FILHOS!

A Zit Editora lançará em breve este delicado poema de Sulamy Katy, escritora Potiguara do litoral da Paraíba. Sobre suas origens a autora já lançou MEU LUGAR NO MUNDO (Ática, 2004), ilustrado por Fernando Vilela. NÓS SOMOS SÓ FILHOS! enfoca a percepção nativa, tradicional entre povos indígenas, sobre os laços que a tudo e a todos envolve. Compartilha com o leitor a regência dos ciclos, nexos e forças natureza. Emociona e faz pensar. Principalmente nos tantos artifícios, tão carentes de equilíbrio, que temos adotado para viver. Para converter esse texto sensível em livro, não caberiam fronteiras muito rígidas.




NÓS SOMOS SÓ FILHOS! tinha que virar um picture book, em que texto e imagens pudessem brotar juntos. Graças à autonomia concedida pela editora, procurei montar um chassi de projeto gráfico para entrelaçar o texto original – sob recortes e proporções variadas – com ilustrações intuitivas, feitas com pincel e cores diversas. O livro foi planejado para ter 32 páginas, ao longo das quais pude distribuir o texto em pequenos fragmentos. Todas as pinturas foram feitas sem esboço ou ideia prévia. Apenas me deixei levar pelo fluxo e pelos motes oferecidos por cada trecho do poema. As pranchas foram depois digitalizadas, tratadas e ajustadas para as dimensões do livro e necessidades do projeto gráfico.

janeiro 05, 2011

OUVIRAM DO IPIRANGA


Mas aquelas águas não foram tão plácidas assim. Pelo menos, até a versão final do Hino Nacional Brasileiro. Que o diga o verde-louro dessa flâmula!

Num dia de arrumação, Beatriz recebe um presente do avô. Uma batuta que pertenceu a Francisco Manuel da Silva, autor da música do Hino Nacional. Ao dizer as palavras mágicas “Ouviram do Ipiranga” três vezes, a batuta ganha vida e conta à menina toda a história do hino. O livro OUVIRAM DO IPIRANGA, de Marcelo Duarte, será relançado pela Panda Books em 2011. Além de revelar o significado de cada palavra da letra do Hino Nacional, a obra apresenta passagens históricas e curiosas relacionadas à criação da letra. Também traz a letra do Hino Nacional Brasileiro, do Hino da Independência e da Proclamação da República, biografias dos personagens mencionados na obra (Dom Pedro I, por exemplo) e as novas ilustrações, que fiz misturando técnicas e materiais.


A imagem da rinha de galos ilustra a peleja musical entre o Padre José Maurício – mulato, filho de uma escrava e mestre da Capela Imperial desde 1808 – e o maestro Marcos Antônio Portugal – célebre autor português de óperas de sucesso – que desembarcou no Brasil com a Família Real em 1811. O título mais importante de música na época era justamente o de mestre da Capela Imperial. Equivaleria a ser regente da orquestra imperial.