dezembro 30, 2012

MUNDURUKANDO OUTRA VEZ


Um dia na aldeia, uma história munduruku, lançamento da Melhoramentos, revela como um típico menino munduruku assimila naturalmente saberes diversos. Por meio de jogos e brincadeiras, o jovem Manhuari recebe os conhecimentos tradicionais, essenciais para crescer em sintonia com a cultura do seu povo e para viver em harmonia com a natureza. Os Munduruku, conhecedores dos astros e constelações, celebram o cotidiano, os animais, as frutas e outros temas em belas canções e poesias.

Assim também foi a infância de Daniel Munduruku, amigo e parceiro de tantos projetos, que hoje a todos encanta com suas tantas e belas memórias e histórias. Além da narrativa em si, o livro traz um pequeno glossário e um posfácio sobre o povo Munduruku, apelido dado pelos não indígenas, que significa formigas gigantes. Eles se reconhecem, no entanto, como Wuy jugu, ou gente verdadeira. A história narra um dia típico de uma bekitkit (aldeia) munduruku. As ilustrações são monotipias colorizadas com pigmentos naturais e retoques digitais.

novembro 27, 2012

A AMAZÔNIA QUE O INGLÊS VIA


Este Contos Amazônicos (Editora Martin Claret) é o último livro do professor, advogado, político, jornalista e escritor Inglês de Sousasob o mesmo princípio literário: descrever a realidade com olhos de cientista. Como pioneiro da literatura naturalista no Brasil, seu objetivo era mais analisar do que sentir. Neste e nos outros quatro robustos romances que escreveu são evidentes as influências de Eça de Queiros e Émile Zola. Na obra aborda temas como a Cabanagem no norte, a guerra do Paraguai, a escravidão, a relação entre brancos e índios, os ventos da República e a fragilização do catolicismo, emoldurados pela paisagem colorida e pelas histórias, lendas e mitos dos ribeirinhos do Pará, na região amazônica. Ailustração de capa foi motivada pelo sétimo conto, cujo protagonista é provavelmente o mais comentado e difundido mito do norte: o boto.

outubro 26, 2012

PEDZERÉ, LINHAS E CORES


Essa história foi inspirada pela visão de um sanhaço-de-coqueiro que a autora – a escritora carioca Naná Martins - vislumbrou pela janela do seu quarto, um pouco antes de dormir. No dia seguinte, embalada pela brisa e pelo canto dos pássaros, Naná observou uma bela índia que ajeitava os longos cabelos negros. Nasceu assim o mote para uma narrativa fictícia, lançada pela Editora FTD, com toques étnicos nativos e cenário natural. Pedzeré, a protagonista, colhe folhas todas as manhãs, próximo a sua aldeia. Folhas para comer, para banho, para remédio, para comida. Um dia é surpreendida por um jovem indígena com uma linda pintura corporal de origem misteriosa. Os dois se apaixonam. E nada mais será como antes.


Na confecção das ilustrações usei tanto recursos analógicos quanto digitais, combinando monotipias, tintas naturais, papeis reciclados, carimbos e raspagem. As formas estilizadas foram livremente baseadas nas famosas bonecas Karajá, que são pelas mulheres chamadas na língua nativa de ritxòcò e pelos homens de ritxòò. Tais figuras de argila e cinza são a expressão de uma identidade. Têm profundos significados sociais, reproduzindo a ordem sociocultural e familliar dos Karajá, comunicando ludicamente os valores passados de uma geração à outra. Como a etnia de Pedzeré é indefinida, criei padrões gráficos e adornos aleatórios. Apenas a caracterização da cobra é mais realista. Trata-se da jiboia-arco-íris, ou salamanta, uma espécie que pode atingir quase dois metros de comprimento. É típica do cerrado e encanta pelo brilho colorido, graças a sua incrível iridesciência, provocado pela reflexão da luz sobre sua pele. 



agosto 03, 2012

O MUNDO PELOS OLHOS DE GAIA

A Editora Gaia preparou a nova edição do seu catálogo de literatura infantil e juvenil para a 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. A Hipótese, ou Teoria, de Gaia foi o mote para a criação da capa. Trata-se de uma tese que sustenta funcionar o planeta Terra como um ser vivo. Foi apresentada em 1969 pelo investigador britânico e ambientalista James E. Lovelock e pela bióloga estadunidense Lynn Margulis. O nome Gaia é uma homenagem à deusa grega Gaia, da Terra. Controversa para alguns membros da comunidade científica internacional, a Teoria de Gaia encontra simpatizantes entre grupos ecológicos, místicos e também pesquisadores atentos às interações cíclicas do "meio ambiente", portanto, não-lineares e não deterministas".



julho 18, 2012

COM A NOITE VEM SONO





O mito traz consigo a magia do princípio do mundo. Naquele tempo havia harmonia e o mundo era povoado por forças que buscavam controlar a noite, 
o dia, o fogo, os alimentos, os homens e os animais, o tempo e a natureza. 
Era tempo que inspirava cuidados com o corpo e com o espírito e de tudo emanava o mistério e a magia capazes de dar sentido à existência. Assim 
era. E assim ainda é. São o mistério e magia que alimentam nossas vidas. 



E quem conseguir ler a história que este livro traz com os olhos do coração, 
irá enxergar muito além das próprias palavras. E se encontrará, de novo, no princípio de tudo. Escreveu assim Daniel Munduruku, no texto de quarta capa deste reconto da escritora e professora Lia Minápoty, da etnia Maraguá. Lia pertence ao clã Çukuyêguá Poe por nascimento e ao clã Aripunãguá por casamento. Nasceu na área indígena Maraguapajy, próximo ao rio Abacaxi, 
na aldeia Yãbetue'y. 


O povo Maraguá, que vive na imensidão amazônica, conta com algumas centenas de pessoas, que lutam para preservar sua cultura tradicional. 
A narrativa, que ilustrei a convite da Leya, revela a busca dos Maraguá pela noite restauradora. Sem a escuridão, que aprofunda o sono, faltava energia 
para o trabalho diurno. Lia retoma na obra a fala encantatória, que acontece 
nas rodas de conversa ao entardecer, quando todos se reúnem para ouvir histórias mágicas, como numa espécie de portal onde experiências, 
realidade e sonho se fundem. Projeto gráfico meu e de Eduardo Okuno.

julho 12, 2012

UM RECONTO DO POVO LUO



Duany mal ajudava a mãe e a irmã com a moenda do milho e outros afazeres doméstico de sua aldeia. Seu maior desejo – o qual compartilhava com todas as garotas da sua idade – era ter a tatuagem mais bonita de seu povo, para conseguir um bom pretendente para casar. Contudo, Duany encontrará pelo caminho uma criatura misteriosa, que mudará o rumo de sua vida. Recente lançamento da Editora Gaivota, A tatuagem apresenta ao leitor uma bela narrativa tradicional da etnia Luo. 


É o segundo livro de temática africana do escritor Rogério Andrade Barbosa que tive a oportunidade de ilustrar e cuidar do projeto gráfico. Agradeço o convite e o investimento na edição caprichada, de capa dura e papel de qualidade, que valorizou a narrativa tradicional dessa etnia que integra o grupo linguístico chamado de nilóticos ocidentais. As ilustrações desse livro receberam o The Merit Award/Hiii Illustration International Competition 2012





Logo nas primeiras páginas há um mapa, que mostra onde vive ainda hoje o povo Luo. Após sucessivas migrações, esse grupo étnico se estabeleceu no entorno do lago Vitória (ou Nyanza) – situado no Quênia –, e em certas regiões da Tanzânia e Uganda. Os Luo são bem conhecidos como o povo dos lagos, pela alta estatura e pelo trato com o gado. Possuem, como tantos outros povos africanos, uma variada e rica literatura oral. Histórias que são transmitidos pelos mais velhos ao mais novos, de maneira cíclica.

A pesquisa sobre os Luo foi meu alicerce na confecção das ilustrações. As artes corporais costumam estar relacionadas tanto à afirmação de identidade étnica quanto a outras circunstâncias tais como luto, trabalho, festividades, ritos de passagens, entre outras. Tais contextos rurais estimulam penteados, adornos, pinturas corporais, tatuagens e escarificações. Estas últimas, que já foram tão incômodas aos colonizadores, hoje inspiram a cultura urbana contemporânea e globalizada. 



maio 18, 2012

NOVO ROMANCE DE PAULO LINS

Alguns anos depois do sucesso Cidade de Deus, o escritor Paulo Lins resgata momentos da formação da cultura brasileira através do samba, do candomblé e da umbanda e do modo de vida nacional no Rio de Janeiro na década de 1920. O autor conta a história de diversos personagens envolvidos na fundação do primeiro bloco de Carnaval, da escola de samba Deixa Falara primeira escola de samba do Brasil, fundada no Rio de Janeiro, em 1928. Moradores e frequentadores da zona do baixo meretrício do Rio trazem ao leitor a realidade das ruas naquela época. Prostituição, relacionamentos conturbados, sexo, violência, fé e ritmo. Assim foi o samba fazendo escola e pedindo passagem.


DESDE QUE O SAMBA É SAMBA apresenta a Pequena África que é a região que inclui Estácio, Cidade Nova, Rio Comprido, Zona Portuária e Catumbi. Uma zona onde moravam os negros que vieram da Bahia e trabalhadores do cais do porto do Rio de Janeiro. Um gueto, onde também viviam portugueses imigrantes, espanhóis e árabes.

Na entrevista para o GloboNews, o autor dá seu testemunho sobre a superação da "doença da meia-noite", conforme dizia Egar Allan Poe. E mostra satisfação em lançar agora este novo e cativante romance pela Editora Planeta, cheio de ginga, cuja capa tive o privilégio de criar. O vermelho e o branco, dominantes na ilustração, eram as cores oficiais da Deixa Falar. Como também compõem, junto com o preto, a identidade cromática do Seu Zé Pelintra e do Exu Tranca-rua, entidades da nova religião. O samba e a umbanda nasceram no mesmo terreiro de candomblé.

abril 10, 2012

A MENINA, O CORAÇÃO E A CASA

Altamente Recomendável FNLIJ 2013 - Produção 2012


A Global Editora publicará este delicado livro de María Teresa Andruetto. O lançamento será no dia 18 de abril, logo após o coquetel de abertura do 14° Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, que acontecerá no Rio de Janeiro entre os dias 18 e 29. É comovente a prosa poética dessa autora argentina, nascida em Arroyo Cabral, Córdoba. Neste livro, com tradução da escritora Marina Colasanti, cuidei do projeto gráfico e das ilustrações de capa e miolo. A autora, que já recebeu uma série de menções, distinções e prêmios, acabou de levar o Prêmio Hans Christian Andersen de 2012. O brasileiro Roger Mello ficou entre os cinco ilustradores finalistas. Entre os escritores também foi finalista o saudoso Bartolomeu Campos de Queirós.

abril 04, 2012

O GUARANI


José de Alencar, criador de uma literatura nacionalista e maior romancista do Romantismo brasileiro, ao escrever O Guarani desejou fundar uma literatura brasileira autônoma de Portugal, com sintaxe e vocabulário típicos. A famosa história de amor entre o índio Peri e a moça branca Ceci – temperada com muita ação e traição, lutas e vingança – foi publicada antes como folhetim, em meados de 1857. Depois foi ajustada para virar livro. Ilustrei a capa desta edição para a Editora Martin Claret, na conhecida coleção que reúne obras-primas de grandes autores. No romance destacam-se as atitudes morais, de bravura, lealdade e firmeza moral atribuídas às certas personagens, inclusive indígenas, cujos valores são claramente utópicos e ufanistas. Mas é notável o destaque dado à oposição entre o nativo e o branco, o campo e a cidade, o sertão e o litoral.

janeiro 12, 2012

LITERATURA INDÍGENA EM REVISTA










A Revista Continente é uma publicação da Companhia Editora de Pernambuco (CEPE). Por Luiz Arrais, superintendente de criação, fui convidado a ilustrar a capa e a respectiva matéria especial da edição #133, que trata da chamada literatura indígena.

A matéria, assinada pela jornalista Isabelle Câmara, destaca o crescente interesse por obras de autores indígenas no cenário editorial brasileiro. Diversos autores são lembrados, tais como Marcos Terena, Eliane Potiguara, Graça Graúna, Olívio Jekupé, Nhenety Kariri-xokó, Tkainã, Vãngri Kaingáng e outros. Há também uma entrevista com o escritor Daniel Munduruku, que expõe sua percepção sobre a literatura indígena e toda a sua diversidade étnico-cultural. Também dei uma palhinha sobre o tema. Quem puder, confira a Continente, uma publicação muito bem cuidada.


Tanto tradicionais quanto contemporâneas, ilustrei a matéria com estas as duas licocós acima, ou bonecas de barro feitas pelas mulheres Karajá. Uma delas lê. Enquanto a outra, digita em seu laptop. A identidade, manifesta nas formas, adereços e pintura corporal, dialoga com a contemporaneidade. Já para capa fiz um tributo ao povo Kambiwá, natural do sertão do Pernambuco (Ibimirim, Inajá, Floresta). Com seu paramento de palha de caroá, e maracás em punho, um índio participa do ritual do praiá. Do diadema, disposto feito uma boca, em vez de penas projetam-se línguas. Cada qual relacionada a uma família linguística indígena. Essa mesma imagem foi premiada no XX Salão Internacional de Desenho para a Imprensa, na categoria "Ilustração Editorial" (Porto Alegre, 2012).