VIRANDO GENTE GRANDE, RITUAIS INDÍGENAS DE PASSAGEM (Editora Moderna) é um livro que reúne histórias e informações sobre seis povos nativos: os Xavante, os Nambikara, os Bororo, os Guarani-Kaiowá, os Tapirapé e os Sateré-Mawé. Benedito Prezia, o autor, é pesquisador, assessor do CIMI e mestre em Linguística Geral pela USP. Celebrações de casamento ou formatura, por exemplo, são bem conhecidas e praticadas pela sociedade em geral. Contudo, existem muitos outros ritos tradicionais de passagem entre os povos indígenas. Boa parte deles sofreu com a influência da religião cristã e com a imposição de um modelo estrangeiro invasor. Muitos têm resistido. Outros buscam resgatar seus valores originais e sentidos profundos de sua origem, identidade e ancestralidade, frente à padronização cultural que empobrece, esteriliza e limita.
Os Tapirapé são um povo Tupi-Guarani originário da floresta do Pará. O contato com as frentes de expansão a partir do séc. XX os fez estreitar relação com os Karajá. Perderam parte de seu território tradicional para a agropecuária na década de 1990. Mas conseguiram reconhecimento oficial de duas TIs (terras indígenas), uma delas coabitada pelos Karajá. Porém, na TI Urubu Branco ainda enfrentam pressões e invasões de fazendeiros e garimpeiros. Moram em aldeia de formato circular, com a "casa dos homens" no centro, onde se reúnem à noite. Caçadas e pescarias são feitas pelas "sociedades de pássaros", isto é, grupos masculinos organizados por faixa etária. Cada um tem seu espírito protetor animal, que reverenciam. Atualmente educam as crianças em tapirapé e em português.
São amazônidas os Sateré-Mawé. Vivem entre os estados do Pará e do Amazonas. E falam uma língua Tupi bastante diferente das demais, por ser muito antiga e devido ao isolamento. Embora aguerridos, foram escravizados pelos portugueses no séc. XVIII e também vitimados por massacres durante a Cabanagem no séc. XIX. Povo de floresta, todos os seus clãs adotam animais protetores, para os quais dedicam rituais e oferendas. Apesar do catolicismo, muitos ainda praticam a tradição. São os primeiros a domesticar o guaraná, que chamam de uaraná-cecé, do qual obtém o çapó, uma bebida estimulante de leve amargor usada como suco e em rituais de cura. Ainda hoje praticam o ritual da tucandeira, para iniciar os meninos na vida adulta. A imagem acima faz um recorte da cerimônia.
4 comentários:
Comprei este livro recentemente. O texto é bem elucidativo e didático. Mas as ilustrações vão além disso. Muito bom!
Salve, Jorge. Fui até onde era possível ir. Respeitando as referências de cada etnia. E tirando algumas liberdades. De fato, quando se trata de literatura a pegada é outra. Grato. Abraço!
Olá! As ilustrações são sua?
São minhas, certamente. Mas que não existiriam sem a arte dos Saterê-Mawé.
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