julho 18, 2012

COM A NOITE VEM SONO





O mito traz consigo a magia do princípio do mundo. Naquele tempo havia harmonia e o mundo era povoado por forças que buscavam controlar a noite, 
o dia, o fogo, os alimentos, os homens e os animais, o tempo e a natureza. 
Era tempo que inspirava cuidados com o corpo e com o espírito e de tudo emanava o mistério e a magia capazes de dar sentido à existência. Assim 
era. E assim ainda é. São o mistério e magia que alimentam nossas vidas. 



E quem conseguir ler a história que este livro traz com os olhos do coração, 
irá enxergar muito além das próprias palavras. E se encontrará, de novo, no princípio de tudo. Escreveu assim Daniel Munduruku, no texto de quarta capa deste reconto da escritora e professora Lia Minápoty, da etnia Maraguá. Lia pertence ao clã Çukuyêguá Poe por nascimento e ao clã Aripunãguá por casamento. Nasceu na área indígena Maraguapajy, próximo ao rio Abacaxi, 
na aldeia Yãbetue'y. 


O povo Maraguá, que vive na imensidão amazônica, conta com algumas centenas de pessoas, que lutam para preservar sua cultura tradicional. 
A narrativa, que ilustrei a convite da Leya, revela a busca dos Maraguá pela noite restauradora. Sem a escuridão, que aprofunda o sono, faltava energia 
para o trabalho diurno. Lia retoma na obra a fala encantatória, que acontece 
nas rodas de conversa ao entardecer, quando todos se reúnem para ouvir histórias mágicas, como numa espécie de portal onde experiências, 
realidade e sonho se fundem. Projeto gráfico meu e de Eduardo Okuno.

julho 12, 2012

UM RECONTO DO POVO LUO



Duany mal ajudava a mãe e a irmã com a moenda do milho e outros afazeres doméstico de sua aldeia. Seu maior desejo – o qual compartilhava com todas as garotas da sua idade – era ter a tatuagem mais bonita de seu povo, para conseguir um bom pretendente para casar. Contudo, Duany encontrará pelo caminho uma criatura misteriosa, que mudará o rumo de sua vida. Recente lançamento da Editora Gaivota, A tatuagem apresenta ao leitor uma bela narrativa tradicional da etnia Luo. 


É o segundo livro de temática africana do escritor Rogério Andrade Barbosa que tive a oportunidade de ilustrar e cuidar do projeto gráfico. Agradeço o convite e o investimento na edição caprichada, de capa dura e papel de qualidade, que valorizou a narrativa tradicional dessa etnia que integra o grupo linguístico chamado de nilóticos ocidentais. As ilustrações desse livro receberam o The Merit Award/Hiii Illustration International Competition 2012





Logo nas primeiras páginas há um mapa, que mostra onde vive ainda hoje o povo Luo. Após sucessivas migrações, esse grupo étnico se estabeleceu no entorno do lago Vitória (ou Nyanza) – situado no Quênia –, e em certas regiões da Tanzânia e Uganda. Os Luo são bem conhecidos como o povo dos lagos, pela alta estatura e pelo trato com o gado. Possuem, como tantos outros povos africanos, uma variada e rica literatura oral. Histórias que são transmitidos pelos mais velhos ao mais novos, de maneira cíclica.

A pesquisa sobre os Luo foi meu alicerce na confecção das ilustrações. As artes corporais costumam estar relacionadas tanto à afirmação de identidade étnica quanto a outras circunstâncias tais como luto, trabalho, festividades, ritos de passagens, entre outras. Tais contextos rurais estimulam penteados, adornos, pinturas corporais, tatuagens e escarificações. Estas últimas, que já foram tão incômodas aos colonizadores, hoje inspiram a cultura urbana contemporânea e globalizada.