fevereiro 26, 2010

CADEIRAS PROIBIDAS


Nos anos 1970, Loyola escrevia crônicas para o Jornal Última Hora. Durante a ditadura, desconfiava-se de tudo e de todos. Sob tal tensão, seus textos viravam contos. Irônicos, cínicos, irreverentes, loucos, críticos, absurdos, profundos. Homens que viram barbantes. Mulheres que contam janelas. Gente que atravessa vidros. Um big-brother poético. O de Orwell, naturalmente. Achei interessante explorar o nonsense geométrico e as ilusões de ótica, à maneira do holandês Escher. Evitei assim explicitar a violência e a repressão. Somente insinuando o real. Na mesma levada dos contos.

fevereiro 11, 2010

HISTÓRIAS INDÍGENAS DE ASSUSTAR


Finalizando a trilogia de narrativas nativas, recontadas pelo escritor Daniel Munduruku , a Global em breve lançará o livro A CAVEIRA ROLANTE, A MULHER LESMA E OUTRAS HISTÓRIAS INDÍGENAS DE ASSUSTAR. Depois de ilustrar os dois primeiros títulos da premiada antologia, que trazem histórias de amor e de origem, tive agora a oportunidade de ilustrar personagens e enredos soturnos, patrimônio cultural dos povos Tukano, Tembé, Karajá, Macurap e Ajuru.


As histórias aqui recontadas pelo Daniel enfatizam o papel estratégico do medo na construção dos sentidos e na sobrevivência humana. Além da mistura de tinturas naturais com anilinas, que adoto com frequência, também utilizei elementos tridimensionais na confecção das ilustrações. Certas pirogravuras levam sementes, espinhos, palha de milho, folhas, raízes, xaxim de côco, madeira, penugem, casca de fruta ou até pipocas. Licença poética à parte, formas e grafismos foram referenciados pelas respectivas culturas originais. O fotógrafo Miguel Chaves fez a captura final das imagens.

fevereiro 02, 2010

ALMANAQUE BRASIL

Dia 2 de fevereiro é dia de festa no mar. Saudações à rainha das águas! A carranca pirogravada – fogo e água – estará na próxima capa da Almanaque Brasil.

A nova edição da revista de bordo da TAM trará a história da navegação brasileira como tema principal: os barcos indígenas, jangadas e canoas, a surpresa dos primeiros europeus ao conhecer as sofisticadas formas de navegação dos nativos, a influência tecnológica estrangeira, nossa tradição marítima e fluvial, as comunidades pesqueiras, gente do mar como João Cândido e Amir Klynk e, claro, as singulares carrancas do rio São Francisco.

Talvez tais figuras de proa fossem feitas, a princípio, com um objetivo comercial. Por volta de 1888, os ribeirinhos dependiam do transporte de mercadorias pelo rio. E os barqueiros buscavam chamar a atenção do povo para suas embarcações. Aos poucos, atribuiu-se às carrancas a propriedade de afugentar maus espíritos e caboclos d'água. Admirável expressão artística popular brasileira, as carrancas são horrendas e belas.